“Relicários das memórias que me contaram...”
Nessa série eu trabalho as histórias dos outros. Memórias que não são minhas, mas que me contaram. Eu ouço a narrativa alheia e interajo a partir de meus sentimentos e da minha imaginação. São vidas vividas de pessoas que não conheci, em lugares díspares de outros tempos.
Ioana Mello, Curadora, observa que o fio atua como um vínculo entre mim e o outro; que costuro afetos, experiências, o passado no presente, como Ariadne, meu fio cria um caminho entre mundos. O bordado, as intervenções tornam a fotografia do outro mais pessoal para mim e me permite reagir palpavelmente ao invisível. Consigo transformar o ausente – a memória de outra pessoa – em um diálogo entre tempos e espaços. As novas narrativas visuais que crio, conversam comigo, com o outro e com os espectadores.
O bordar traz ainda mais simbolismos, pois carrego nesse ato saberes de tantas mulheres, que como Penélope bordaram delicadamente “mundos particulares”, acolhendo sentimentos e desejos. As tramas feitas com linhas reverenciam os trabalhos manuais femininos de gerações. Como num ritual, reavivo intuitivamente memórias do outro, minhas e do feminino. Realço o significado conceitual dessas memórias, transformando-as em pequenos relicários.
Ioana Mello – Mentoria Artística
Alessandra França – Artista Visual